Discursos em homenagem ao Patrono Nacional da Advocacia Trabalhista, advogado Jorge Otávio Oliveira Lima feito ontem na abertura do CONAT pelo vice-presidente da ABRAT na Região Nordeste, o Antonio Menezes e André Sturaro - Presidente da ABAT - Associação Baiana de Advogados Trabalhistas

Amigo Jorge Lima, escrevo pra dizer que tem chovido muito em Salvador nesses últimos doze meses como se o outono dominasse as demais estações do ano, desde a sua partida na primavera de tristes lembranças de 2020. Em Jacobina, sua terra mãe, continua o clima de sertão verdadeiro: muito calor durante o dia e frio à noite, com a vida passando lenta como o rio do Ouro , restando incólume a hospitalidade da gente do lugar. Itapoã continua a bela praia que você frequentou com suas crianças e com Haydee e o sorvete da Ribeira refresca as nossas vidas no verão com os melhores sabores ao alcance do nosso paladar.

O Vitória se recusa em vencer, na sua ausência , e os babas do Clube dos Advogados perdeu muito a espontaneidade e a alegria sem as suas resenhas, assim como os papos no Clube Inglês, o cafezinho na sede da ABAT ou a cerveja no barzinho da Rua da Paz, regado com o acarajé de Patrícia, que se agitava com a sua expansiva presença. O local hoje eterniza o seu nome em placa, gravando no metal um sentimento coletivo de afeto.

Por aqui continuam os ataques aos direitos sociais, a suprema supressão aos direitos dos trabalhadores e a pandemia fazendo estragos entre os brasileiros sob a omissão das autoridades sanitárias no âmbito federal. A Justiça do Trabalho aos poucos vai retomando as suas atividades presenciais.

A boa notícia é que você continua a ser muito amado pelos seus familiares, pelos seus amigos, pelos seus clientes que viam em você o combatente defensor do que é certo, do que é ético, como ensina o Direito Romano de que a finalidade principal  do Direito é garantir a justiça e a equidade na linha da “arte do bom e do justo”. Encontramos no amigo aquilo que não possuímos e você nos  ofertava cotidianamente lições de solidariedade, de confiança, de fraternidade…

O escritor mexicano Carlos Fuentes dizia que a morte de uma pessoa jovem produz algumas situações:

“A morte de um jovem é a própria injustiça. Revoltados contra semelhante crueldade, aprendemos pelo menos três coisas:  a primeira é que, ao morrer  um jovem, já nada nos separa da morte. A segunda é saber que há jovens que morrem para ser mais amados. E a terceira, que o morto jovem a quem amamos está vivo porque o amor que nos uniu continua vivo na minha vida.”

Jorge, a advocacia trabalhista brasileira se reúne hoje para dizer em alto e bom tom: nós te amamos, e você continua vivo em nossas vidas. Axé!

Antonio Menezes - Vice-presidente da ABRAT na Região Nordeste

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JORGE OTÁVIO OLIVEIRA LIMA, filho de Carlos Lima e Cleusa Oliveira Lima (Cleusinha), nascido em 22.11.1969. Casado com a sua incrível companheira Haydee, trouxe ao mundo os queridos Jorginho e Rafa, os quais, junto com ele, são também destinatários desta homenagem. Seus irmãos Cícero, Alex, Tarcísio e Carla lhes deram os sobrinhos Marina, Paula Santiago, Juliana, Joao Marcos, Joao Pedro, Esther, Bernardo e Gabriel. Juntam-se a esses, muitas outras pessoas aqui não nominadas, cujo afeto e a amizade encorpam a grande família que Jorge Lima cultivou e cativou.

Entre embora aqui não nominados, estão aqueles com quem conviveu nas Escolas Pequeno príncipe e Iolanda Dias Rocha, onde cursou até a 4 série, o Colégio Comercial de Jacobina, (CAXO), da 5a à 7a série. De lá, Jorge saltou para Salvador, vindo a estudar no Colégio Nobel do Itaigara, até o 3º ano, tendo ingressado na Faculdade de Direito da Universidade Católica do Salvador, por onde se graduou. Em todos esses lugares, logrou fazer amigos e admiradores. E..., porque a unanimidade não é inteligente, certamente deve ter angariado um ou outro desafeto.

Foi também bancário e um aguerrido militante político, mas cunhou sua marca na advocacia trabalhista, ostentando a inscrição de número 14.630, da OAB Bahia. Na belíssima carreira que desenhou, Jorge dedicou-se como ninguém às causas sociais, especialmente àquelas ligadas aos trabalhadores, notabilizando-se como defensor do Sindicato dos Trabalhadoras na Indústria da Construção Civil do Estado da Bahia – SINTRACOM e da Federação dos Trabalhadores da Construção Civil do Estado da Bahia – FETRACOM.

Consciente da importância do associativismo e da necessidade de priorizar a coletividades como forma de aprimorar os direitos sociais e o desenvolvimento da sociedade, engajou-se bravamente na militância classista, frente à ABAT, ABRAT e OAB. Nosso amigo marcou sua trajetória como um destacado defensor da democracia, dos direitos sociais e das trabalhadoras e trabalhadores, combateu o racismo, a violência contra a mulher, a homofobia e todas as demais formas de preconceito, a pobreza e a concentração de renda, enfim, foi um expressivo humanista!

Amava o futebol e, por não ser perfeito, era torcedor consciente do Esporte Clube Vitória e nutria imenso carinho por seu time dentro da advocacia, o Recurso Deserto. 

Todas essas atividades eram desenvolvidas por ele com muita energia, com seriedade e comprometimento que saltavam aos olhos e, por vezes, aparentava ser uma obsessão. Mas não! Era compromisso obstinado com as causas em que acreditava. Jorge sabia que essa era a uma missão na sua vida e não se acovardava nem se prendia a limites para isso. Tudo levado com imensa seriedade, adicionada a um bom humor disruptivo, dado o tom geralmente provocativo que imprimia às suas brincadeiras: quantas vezes simulava o semblante zangado que se desfazia em sorrisos numa fração de segundos logo após desconcertar um colega. Esse era o seu charme!

Nesse desempenhar, aplicou a igualdade de tratamento e a justiça como suas métricas. Tratava a todos com a mesma distinção, dos poderosos ao mais humilde dos cidadãos. E se importava com todos eles... Na sua militância pelo bem comum, Jorge se entregava com ênfase a toda e qualquer realização que entendesse importante: da trincheira de uma greve, a uma passeata; da visita a gabinetes de tribunais ou de governantes e políticos para defender uma causa ou um projeto de lei; da mobilização para uma doação de sangue, passando pelo auxílio a pessoas carentes, ao simples abraço e palavras carinhosas a um passante ou um trabalhador ambulante, a exemplo de todos aqueles que exerciam suas atividades nas ruas do Comércio, nas proximidades da Justiça do Trabalho.

Tudo sem jamais lograr prestígio ou qualquer forma de retribuição ou compensação para si, era pura dedicação, entrega ao outro, o que não raro gerava despeito naqueles que, diferentemente de Jorge, praticam a caridade para “ficar bem na fita” e como forma de arrefecer os incômodos causados por suas próprias consciências. Esse permanente estado de dedicação ao próximo, fato que, perdoem revelar, lhe provocava um conflito interior, pois ele se sentia em débito para com sua companheira e filhos, pois achava que o tempo destinado às causas empreendidas lhe privavam do convívio com aqueles que mais amava!

Encarava o êxito das ações judiciais que patrocinava sem vaidade pelo trabalho, mas com muita satisfação pelo alcance social delas resultantes. Pela pureza de sua alma, não aceitava agradecimentos dos clientes, por considerar que já tinha recebido o pagamento por antecipação, diante de tantas coisas boas que a vida lhe dera: os filhos, a esposa e, como disse ele certa feita: até por ter conhecido alguns países... 

Costumamos dizer que Jorge não acreditava em Deus, mas eu sempre tive minhas dúvidas quanto a isso e lhes explico. Primeiramente, porque ao menos a mim, em duas ou três conversas que tivemos a respeito, ele nunca foi categórico nessa afirmação. Mas, como disse um certo sacerdote, se Deus é o Amor encarnado, Jorge seria a prova da existência divina, na medida em que tudo o que fez ao longo de sua vida foram verdadeiros atos de amor. E era um amor incondicional, uma imensa bondade também encarnada. 

Prezados colegas participantes deste CONAT, sejam os aqui presentes e aqueles que nos assistem, esse é um singelo resumo do legado do advogado trabalhista Jorge Otávio Oliveira Lima nos deixou. Por estas e muitas outras razões, após seu falecimento, o CONSELHO DELIBERATIVO DA ABAT, em sua 1ª Sessão Ordinária, realizada no dia 5 de dezembro de 2020, por unanimidade, criou a MEDALHA JORGE LIMA, uma condecoração que tem por finalidade agraciar: 

– Juristas eminentes e outras personalidades nacionais ou estrangeiras que tenham se destacado no Direito ou em outra atividade sócio-cultural, ou prestado relevantes serviços à advocacia trabalhista, ou ao bem da sociedade, na perspectiva da afirmação dos direitos sociais; 

– Advogados que, por seus méritos, se tenham tornado alvo da distinção.

Assim, aproveitamos essa gentil oportunidade que nos foi dada pela ABRAT neste 42º CONAT para, como forma de perpetuar a memória deste inesquecível e tão amado colega e honrar ainda mais o seu nome, convidamos para receber as três primeiras MEDALHAS JORGE LIMA, a sua esposa Haydee Maria Oliveira Lima, Jorge Otávio Oliveira Lima Filho e Rafael Oliveira Lima.

Salve Jorge, o amado da Bahia!

André Sturaro - Presidente da ABAT - Associação Baiana de Advogados Trabalhistas