OIT: o uso do tempo na formulação de políticas públicas

 BRASÍLIA (Notícias da OIT) – “O valor do tempo: debatendo as desigualdades sociais” foi o tema da 35ª Conferência Internacional encerrada nesta sexta-feira (09), no Rio de Janeiro. "As pesquisas de uso do tempo são fundamentais para ampliar a base de conhecimento e a elaboração de políticas públicas de promoção do Trabalho Decente, sobretudo no âmbito das dimensões do equilíbrio entre trabalho e família e da igualdade de oportunidades e de tratamento no emprego", disse o representante do Escritório da OIT no Brasil no evento, José Ribeiro.

Ele classificou como fundamentais as pesquisas do uso do tempo com recorte de gênero, ao enfatizar que estes levantamentos reconhecem o trabalho não remunerado exercido pelas mulheres.  "A experiência brasileira de criação do Comitê de Estudos de Gênero e de Uso do Tempo se constitui num profícuo exemplo de articulação institucional e técnica para a incorporação da perspectiva de gênero na produção e análise de informações estatísticas; trata-se de uma boa prática que servirá de referência aos outros países", disse.
O encontro reuniu especialistas de 38 países da África, América, Ásia, Europa e Oceania com foco na apresentação de estudos estatísticos e acadêmicos sobre o uso do tempo por mulheres e homens e sua contribuição para a formulação e implementação de políticas públicas.
Realizado pela segunda vez no Brasil, o encontro tem significativa presença de pesquisadores e pesquisadoras latino-americanas. Do Brasil, foram 47 trabalhos inscritos, o equivalente a 26% do total, representando a maior participação do país numa conferência de uso do tempo. Contando os últimos 13 anos, desde o ano 2000, é a primeira vez que Bolívia, Chile, Colômbia, Equador, Peru, Uruguai e Venezuela inscreveram pesquisas.
 
Com 11 trabalhos inscritos, o Reino Unido responde por 6% das submissões da 35ª Conferência. Um desses estudos é “A revolução de gênero contínua no trabalho não remunerado”, do diretor do Centro de Pesquisa em Uso do Tempo da Universidade de Oxford, Inglaterra, Jonathan Gershuny.
 
A 35ª Conferência sobre Uso do Tempo homenageou um dos primeiros pesquisadores d
e uso do tempo, o professor húngaro Alexander Szalai. Ele foi responsável pelo primeiro grande estudo multinacional de uso do tempo realizado entre 1965 e 1966. Esse estudo foi implementado em 12 países, com 30 mil entrevistados no total. A publicação resultante, o livro “O uso do tempo”, é considerada referência na área, criando padrões metodológicos referenciais.
 
A conferência foi organizada pela Secretaria Especial de Políticas para as Mulheres (SPM), pelo IBGE, pelo Ipea, pela OIT e pela ONU Mulheres. É promovida pela Associação Internacional de Pesquisas de Uso do Tempo (International Association for Time Use Research – Iatur). 
 
O Comitê Técnico de Estudos de Gênero e Uso do Tempo foi criado, em 2008, como uma das ações previstas no II Plano Nacional de Políticas para as Mulheres (PNPM). Tem por objetivo estimular a incorporação da perspectiva de gênero na produção e análise das estatísticas oficiais e nos registros administrativos do país. Entre os principais resultados, está a incorporação do bloco temático sobre gênero na Pesquisa de Informações Básicas Municipais (MUNIC), elaborada pelo IBGE desde 2009 e a pesquisa piloto sobre uso do tempo realizada pelo IBGE naquele ano.