“Você não é nada. É apenas uma mestrezinha de obras”. Essas palavras foram ditas pelo engenheiro e gerente geral de produção da mestre de obras Maria do Amparo, vítima de assédio moral no trabalho, que transformou sua experiência de vida em um livro. O dano causou graves problemas de saúde à Maria e uma condenação ao Consórcio Construtor Metrosal, tanto em ação individual quanto em ação civil pública por danos morais, movida pelo Ministério Público do Trabalho (MPT).
Daí surgiu o livro “Simplesmente Maria”, que teve a primeira edição esgotada e será relançado na próxima quinta-feira (31), às 16h, no Centro de Cultura da Câmara Municipal de Salvador, na Praça Municipal. Primeira mestre de obras da Bahia, Maria do Amparo já foi encarregada das obras do Campo Grande e do Dique do Tororó, e já trabalhou em grandes empresas, como Odebrecht, Andrade Mendonça, Andrade Gutierrez e Camargo Correia.
Com 27 anos de carteira de trabalho assinada, profissional experiente, Maria recentemente sofreu assédio moral em uma das empresas responsáveis pelas obras do Metrô de Salvador. “Mesmo diante das palavras de humilhação não me deixei abater pela hierarquia, nem pelo machismo de muitos colegas da profissão”, relata a operária-escritora.
Segundo Maria, a mulher que escolher seguir a profissão de mestre de obras deve ter caráter muito forte, personalidade, e ser segura de si. “Nesse ramo, que favorece mais o sexo masculino, ocorre muito assédio moral e sexual, desmerecendo a capacidade feminina”. Na ação civil pública movida em 2011pelo MPT na Bahia, por meio do procurador Manoel Jorge e Silva Neto, ela foi testemunha e ajudou a obter a condenação do Consórcio.
Lutar pelos direitos – Após ter sido confirmado o assédio moral na ação movida pelo MPT, a operária deu entrada no Tribunal Regional do Trabalho (TRT) em uma ação individual e a empresa foi condenada por danos morais e materiais. “Denunciei o fato ao MPT e entrei com um processo no Tribunal Regional do Trabalho. Ganhei a causa em todas as instâncias”, afirma, ressaltando que sempre vale a pena lutar por direitos.
“Simplesmente Maria” foi lançando com apoio do Sindicato dos Trabalhadores na Construção Pesada (Sintepav-BA). O texto revela que Maria do Amparo nasceu no povoado de Camaçandi, interior da Bahia, em 1955. Com o sonho de ser mestre de obras, ela chegou a Salvador aos 23 anos, deixando sua única filha, à época um bebê de 1 ano de idade, com a avó.
Ao ir às obras procurar emprego, enfrentou dificuldades, mas não se abateu com os diversos “nãos” que recebeu. “Quando ia me candidatar a alguma a vaga de mestre de obras, os responsáveis pela seleção diziam que a vaga para copeira já estava preenchida e a de cozinheira também”.
Maria do Amparo concluiu o ensino médio e fez cursos técnicos de construção civil e edificações, com objetivo de ascender profissionalmente. Até que em 1987 foi promovida e passou a coordenar uma equipe com diversos pedreiros, conquistando a função de mestre de obras, atividade que exerceu até 2006, quando sofreu assédio moral e teve que se afastar do trabalho por motivos de saúde.